Muito do que é abstrato torna-se compreensível somente por exclusão lógica. Digo, a maneira mais rudimentar de definir algo é pela descrição do conjunto complementar. Emerge daí a dicotomia que grassa juízo maniqueísta e é o pesadelo mais renitente de alguns, sobremaneira daqueles cujas antiquadas lentes não permitem apreciar as singelas intersecções existentes. Os mesmos que sentiam-se molestados quando o tema da aula de desenho na pré escola era livre, pois precisavam de limites bem definidos, agora, sofrem por terem suas convicções ruídas e suas fronteiras borradas pelo escrutínio que os roubou uma vida preto e branca e apresentou um gradiente onde palavras como 'bom', ou 'ruim' não exercem com eficiência seu poder.
Se aceitarmos chamar de progresso o caminho percorrido pela humanidade, é tacanho, para não dizer estúpido, negar que existimos entre infinitésimos que formam espectros tão diversos que é penoso ilustrá-los. Contudo, permanece a fatídica tentativa de alguns afirmarem-se através do desejo de nulidade de outrem. Sempre um novo
über alles, sem notar quão exígua é a diferença que colheu essa animosidade. Algum contorno do alvo pode parecer bem claro, mas a questão que passa ao largo é que, quase sempre, aquele que chamamos de antagonista é nosso real propelente e nossa mira aponta para a outra extremidade da mesma gangorra em que estamos.