Era uma noite de quinta-feira. O homem, desgastado pelo extenuante dia de trabalho, revirava o conteúdo de sua pasta à procura das chaves. Não tinha o hábito de carregá-las no bolso. Sob uma débil, mas ruidosa chuva, não notou a aproximação do facínora que encostou o revólver em suas costas, dizendo:
- Abra o portão e entre em silêncio!
- Não consigo encontrar minhas chaves. Por favor, não atire!
- Ande logo!
Seus dedos trêmulos percorreram o interior da pasta até esbarrarem nas chaves. Ao puxá-las, sua mão vacilou e as derrubou. O movimento brusco que fez para apanhá-las assustou o bandido, que disparou contra sua nuca e fugiu.
Dias mais tarde, numa tentativa de assalto a banco, o mesmo criminoso foi baleado pela polícia, mas sobreviveu. A bala, porém, alojou-se em sua espinha e o privou de seus movimentos pelo resto da vida.
O homem da pasta era um doutor e pesquisador do maior hospital universitário da cidade. Há anos vinha fazendo progresso em sua pesquisa com células tronco e, numa noite de quinta-feira, havia feito uma descoberta genial envolvendo reparação de células do sistema nervoso central, mas seus papéis foram perdidos em meio à chuva e ao sangue.
Do outro lado da cidade, um outro cientista recebia os resultados de seus exâmes. Há tempos era fustigado por uma renitente dor de cabeça. A imagem de ressonância apresentou-lhe seu algoz. Massa sólida, malígna, inoperável!
Conversando com seu médico e amigo, disse:
- Será que devo atribuir minha inteligência a esse tumor?
- Na verdade, eu diria que pela localização o tumor inutilizava parte de seu potencial. É bem provável que se você não tivesse câncer já tivesse descoberto a cura para o câncer.
Sim, meu caro, põe ironia nisso...
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