O artista entrou em seu quarto com o mais pesaroso dos ares. O dia estava doendo. Nos pés. Na cabeça. No coração. Foi o resultado de andar pensando nela.
Estava quente e uma plateia de insetos se formava em torno de sua lâmpada. Zumbiam em exagerado rebuliço, esperando presenciar o momento de uma nova criação. O que seria? Uma música? Um poema?
Tomou seu instrumento e o sentou em sua perna. Ensaiou tangê-lo, mas seus dedos vacilavam. O dia estava doendo. Observou os artrópodes que espectavam, agora acomodados nas paredes e teto.
O artista levantou-se e apagou a luz. Sentou-se no escuro por alguns minutos. Um a um os insetos deixaram o lugar, decepcionados pela ausência de brilho e calor e o artista sentia falta dos zumbidos. No silêncio e no escuro era mais fácil lembrar de tudo que não estava ali.
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