O último integrante dessa casa, por ordem de chegada, é um
gato. Mel tem o pelo preto e branco, pança cultivada ao longo de uns 10 anos,
tenros bigodes e intimidadores olhos amarelos. Sua carência por atenção excede
o nível que em humanos seria classificado como desespero e , como efeito
imediato, seus miados chorosos frequentemente
interrompem a calmaria de nosso sono. Mas Mel é um gato e sua fofice derreteria
o coração dos mais empedernidos.
À noite, quando cada um se enclausura em seu quarto para
dormir, ele faz uma breve visita como seu honesto desejo de "boa noite e
acorde logo para me dar mais comida", mas há algo em minha alcova que o
faz demorar-se ligeiramente mais. O suficiente para que eu crie vontade de
expulsá-lo.
Todos esses conhecidos maneirismos fazem ser impossível não
notar quando algo está diferente. Como quando ele veio e sentou-se em frente a
minha cama, fitou-me longamente enquanto eu tirava as botas e depois
esfregou-se com deleite pelos cantos. Tornou a mim para que eu o alisasse e
depois me encarou com uma estarrecedora nova expressão. Era tristeza. Era
angústia. Parecia ter vindo despedir-se. Naquele dia perdi o sono. Quem estaria
partindo? Eu ou ele?
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