28 de setembro de 2011

Level up

    Não é meu primeiro blog, mas há tempos não escrevia coisa alguma. Talvez seja bom ritualizar, embora eu nunca o tivesse feito. "Não preciso de preparação para poder redigir uma ideia", era o que eu pensava. Sentei-me ao teclado...Onde estariam as ideias? Preciso ritualizar. Mecanizar o processo, só até reaver os traquejos e desenferrujar-me. Alongo dedos e pescoço, evoco entidades inspiradoras, respiro fundo e...nada.
    Não me culpem. Essa minha nova fase, ainda zigótica, com sorte será do agrado dos antigos leitores e dos possíveis novos. E como não sei bem de que maneira devo inaugurar esse blog, resolvi publicar algo de um dos melhores cronistas que já vi (li), afinal, não tem como errar com um texto destes.

Balada

Esta é a balada do Surfista Dourado
que com a prancha emborcada e sentado no chão
ainda ontem, na praia, pensou desolado:
a vida continua depois do verão...

Este ano o seu pai já lançou o ultimato.
Vai acabar esta sopa, este doce far niente.
"Vais ter que escolher, senão te mato:
ou volta a estudar ou pega no batente".

E diante deste futuro hediondo
ele teve uma ideia de engenheiro da NASA.
Ora, pensou, o mundo ainda é redondo
e há mais de um jeito de voltar para casa.

E correu para o mar,  e nadou para o Oriente
e aos gritos de "Volta! Maluco! Pirado!
Tens que vir pra Porto Alegre com a gente!"
Respondeu "Chego lá, algum dia, e pelo outro lado!"

Luís Fernando Veríssimo, 1996, Pai não entende nada.