17 de novembro de 2011

Madrugada

    Não é a primeira vez que acontece. Acordei antes da hora. Meu celular marcava 3:45. Com meio sorriso estampado, virei para o outro lado e tentei voltar ao sono. Nada mais prazeroso do que acordar antes da hora e saber que ainda há tempo para dormir. Nada pior do que perder o sono.
    Não há muito o que se fazer às 3:45 da matina, então resolvi tentar lembrar dos detalhes do que estive sonhando antes do trágico e desnecessário despertar. Olhei em volta tentando encontrar algo que me remetesse ao sonho. O quarto estava completamente escuro. Não consegui reconhecer sequer a silhueta da mobília em meio à penumbra, afinal, o sol ainda tomaria bem umas três horas para permear os finos orifícios de minha janela, deixando o aposento com um ar lúgubre.
    Tentei então escutar os sons da rua. Lá fora havia somente um escandaloso silêncio. Uma atormentadora ausência de ruídos. Nenhum ladrar longínquo, nenhum carro, nenhum bêbado cantando. Senti-me envolto em um nada. Flutuando em silêncio e escuro. Primeiro apreciei a paz e a estranheza daquela madrugada insólita, depois preocupei-me. E se eu estiver cego? Não, não...Acabo de ver as horas no celular. E se eu estiver surdo?
    Um fervilhar de ideias malucas terminou por afastar completamente o sono de mim.
    E se eu estiver mudo? Ah, céus! E se eu morri? Sempre imaginei que morrer fosse assim. Estar envolto em um eterno e infinito nada.
    Inspirei com força e senti o ar gelado entrar em meus pulmões recém amanhecidos. Estava vivo.
    Pigarreei. O ruído grotesco dirimiu minha dúvida quanto à surdez e quanto à capacidade de meu aparelho fonador emitir sons.
    Minha satisfação foi interrompida com o estridente e odioso despertador do meu celular. Só mais cinco minutos...Tornei a deitar-me, contente com meus persistentes sentidos, mas logo entrou minha mãe de sopetão:
    -Acorde e apronte-se, garoto, ou perderá a hora!
    E passei mais um dia entre carros, sirenes, gritos e uma claridade que revela a feiura dessa cidade. No fim das contas, para mim, tudo aqui já perdeu o sentido.