16 de novembro de 2016

Clarification

It is my sincere opinion that science seeks not to obliterate faith, but rather to enlight us on what it has been, for so long, known as his mysterious ways. If I were to devote myself and my life to this task, I imagine that on my deathbed a religious eminence of some sort, performing the last rites, would inquire me "Are you a God fearing man?", to which I'd reply "No! I'm a God knowing man, and we don't fear that which we know!".

2 de novembro de 2016

Millennials

Dos maus rebentos do século, eu sou a inflexão. À frente estão os alvos privilegiados e excessão de toda regra. Atrás os párias e ostracizados. E equilibrado na instável escarpa, refém de minha mediocridade, sento apreensivo. Foi um penoso trajeto até a aterradora conquista de ter uma escolha entre uma curta e letal queda, ou uma mais espinhosa ascensão, sendo que já vivi o bastante para não confiar nas milagrosas promessas de ambos os lados. A vida mais tira do que dá.

Dessa execrável prole, sou a notória expectativa de mudança. Prevaricando minha posição num prestigiado universo. Sendo primeiro pressionado para metamorfizar-me em bruta e valiosa pedra, para mais tarde ser lapidado. Mar calmo não faz bom marujo, mas ninguém por perto sabe nadar.

Da batelada de mortos animados dessa geração, eu sou o entusiasta do fim do mundo.

Com voraz amor,

T. A.


15 de agosto de 2016

Amniótica

Dona Clara,
Emulsificada e com
Sublimada essência
Dispersa em si,
Transformada em
Seu Suspiro
Antes do ovo partir.
Espumada seguiu
Em perpétuo luto
Até o epitáfio,
Que triste dizia:
'Fiz o necessário
E arrependo-me...
De tudo!'

3 de agosto de 2016

Iso méros

Os fios que brotam espessos,
Espalhados por todo o peito,
Escondem sob seu viço
A fragilidade e medo
De quem é por fora
O que não é por dentro,
E vive num êxodo sem êxito
Para o intangível destino
De conseguir ter um X
No lugar que tem Y.

15 de junho de 2016

Jardinagem

Fez todo sentido para mim o que ela disse da flor que trazia à boca. Disse que, embora essa estivesse perecendo de ter sido colhida, continuava bela para ela. E é essa a tristeza das flores. Se as levar contigo, não durarão. Porque nem tudo são flores. Ou são?

Atitulado

Eventuado o pobre peito,
Ensimesmado e desatento,
Volta logo a amar
E amado também fica.
Fica depressado o mesmo
E chega contalento
Ao fim do caminho errado
Endireita, diacho...
Corre almado e ama
E amado também fica.

4 de junho de 2016

Non sequitur

Qualquer porto numa tempestade. Depois da tempestade vem a bonança. Boas coisas àquele que espera. E no fim, quem em meio à tempestade esperava encontrar um porto, morreu afogado. Porventura teve uma pneumonia. Ou tornou-se Jonas, mas enfim, encontrou uma baleia com quem ter, porque se Deus ajuda quem cedo madruga, meu relógio está há tempos quebrado. Dele não ouço susurro sequer. Assumo que estou no inferno. Bom para desfrutar de todas essas boas intenções. Mas já perdoei o laconismo divino. Quando um não quer, dois não discutem. Difícil saber o que fazer com essa cólera que restou, então visto essa carapuça sorridente. Mas a mentira tem perna curta e não acho que meu mundo acabará em barranco, então serei forçado a comprar uma muleta. A única coisa na vida em que poderei apoiar-me. Pois bem. Antes só que mal acompanhado e devegar se vai longe.

2 de junho de 2016

V

    Eu acordo. Sonhei com você. Novamente. Teimo levantar. Mais medo que preguiça. Mais angústia que sono. Estou cansado, é claro. Mas sempre estive. Desfaço-me das cobertas. Começa em mi menor. Meu café é o de sempre. Eu queimo o pão. Meu cabelo fica cheirando a fumaça. Eu penso em você. Você gostava do meu café. Meu peito dói. São 6h. É um mi menor. Dentes escovados e cabelos penteados. A roupa é qualquer. Tomo e elevador e monto minha moto. Seus braços estão apertando-me cada vez que acelero. Todos os lugares que passo eu já passei com você. São 7h e é um mi menor. Será um dia longo. Todos são. As aulas podem estar boas. Não sei. Um professor chama-me a atenção. Estava sonhando acordado. Era você. No almoço ainda era você. Comi algo? Não lembro o gosto. Lembro de sair com você. Meu peito dói. São 14h. É um mi menor. Voltando para casa não estou atento a coisa alguma. Não ouço minha moto barulhenta. Distraído quase causo acidente. Difícil pilotar com olhos mareados. Eu poderia fechá-los e deixar-me ir. São 17h. Mesma nota. Eu estou arrependido. Eu quero consertar tudo. Como cheguei aqui? São 22h. Não sei onde estive? Onde está você? Tudo na minha cabeça é gritado. Minha garganta está doendo. Acho. Há algo pressionando de dentro para fora. Estou desesperado. Onde está você? É meia noite. Eu acho que tinha lição. Não importa. Não consigo seguir. Amanhã não sairei da cama. Acaba em mi menor.

(FIM)

28 de abril de 2016

IV

    Há quem ferrenhamente obste ao que exporei, mas, é sim bem possível chegar à cláusula de um relacionamento com ambas as partes desferindo um derradeiro "eu te amo". E são esses os piores. O dito outrora tão libertador, deixa os lábios agora sussurrado e vacilante, conferindo um tom galante, mas não menos pungente à ocasião e em seu rastro fica um vácuo em que seus sentimentos convulsionarão até expirarem...ou você antes.

(Continua)

5 de abril de 2016

III

    Foi um amigo quem primeiro ouvi comparar o jogo ao escalar de uma montanha. A ideia é excitante, algo não costumeiro,  e a sensação de recompensa acompanha-te através de todo sinuoso e extenuante trajeto,  até ser brevemente confirmada no cimo. Uma vez conquistado o topo, nada mais há para ser feito que senão retomar o fôlego,   despedir-se da incrível paisagem e começar a descida. De modo tão cauteloso quanto ali chegou-se. O caminho reverso é traiçoeiro. Um tropeço e tem-se a ajuda de todos os santos para afastar-se do céu com a maior velocidade com que seu corpo é capaz de rolar.  A comparação pareceu-me, apesar de prosaica, perfeita representação do jogo.
   
    É no alto que gritamos até romper as paredes da garganta 'estou aqui!', e o eco tarda em responder que ele também. Vê-se tudo, mas ao longe. E não ter braços que alcancem a mesma distância que os olhos,  faz brotar um sentimento belicoso.  Cravam-se bandeiras em pedras, unhas no peito, sorve-se tudo de um ar que nos faz ébrios de contentamento ...no efêmero intervalo entre a vitória e o desapego.

(Continua)

27 de março de 2016

II

- Você não pode fazer isso!
Disse-mo grave, mas sem esboçar cólera. Havia uma solene reticência na exclamação. O ar aberto para redarguir. Contestar esse comando. Ela aguardava e seu semblante ficava confuso, como o de quem testemunha uma partida sem despedida, mas minha resposta foi retidão. Uma vastidão de desdém à censura. Agora agravava-se. Sentia perder o controle da situação,  uma vez que plano e execução não convergiram. E quanto mais exasperação me lançava, mais lacônico eu era. Por fim, gritava...NÃO PODE FAZER ISSO!
Já não era acerca da primeira imposição,  mas sim sobre o desmanche de seu remate, tão bem calculado, mas sem êxito.
Somente concordei, triunfante. Feito o abscesso que cresce na carne. Vencê-lo requer extirpar um naco de si. Todos optam por espremer... E ele sempre retorna.

(Continua)

26 de março de 2016

I

    Ninguém dirá que é tarefa fácil expor uma ideia recém concebida, dada a escassa compreensão que uma novidade traz. Toma tempo maturar um fruto mental. Por isso é mais fácil relatar suas predecessoras. Sim. Contar do passado é menos árduo. As feridas fecharam e os pensamentos já foram satisfatoriamente processados a ponto de, agora,  poderem ser transcritos. O que começarei aqui não serão memórias propriamente,  mas sim uma pintura de eventos passados, sob a ótica mistificada do presente. Contar sem florear não renderia bons capítulos. A realidade travestida é o mais cobiçado dos produtos. No mais, podem dizer que estou mentindo. Digo que poupando-os de torpes verdades. Somente. Estou anunciando uma graciosa ilusão, então que tomem dessas letras quem gostar de ser enganado.

    Não retrocederei demasiadamente na linha temporal. A história começará quase pelo cabo. Num prosaico dia que ficou marcado por uma valiosa lição. O cair das máscaras. A descoberta de que não somos sujeitos, tampouco agentes do enredo fiado pelo universo. E meus desígnios começaram a ser revelados. Como bom aluno, tomei ditado.
Pule uma linha...
Parágrafo...
Travessão...

(Continua)

10 de janeiro de 2016

Aula

Na tentativa de responder
Qual o jeito certo de se fazer
Tudo aquilo que for difícil
Mas inegavelmente preciso
Digo que sei o jeito certo
O jeito certo é o antigo
Ninguém era ensinado
Mas era tudo acertivo
O jeito do cego instinto
Não
O jeito certo é o científico
Como aprendi num livro
Pode não ser tão antigo
Mas está escrito
Foi tudo experimentado e medido
Organizado em tipos
Não
O jeito certo é
O jeito certo é
Abandonar o normativo
O jeito certo será
Aquele que for escolhido