5 de junho de 2012

Equilibrium II (ironia!)

    Era uma noite de quinta-feira. O homem, desgastado pelo extenuante dia de trabalho, revirava o conteúdo de sua pasta à procura das chaves. Não tinha o hábito de carregá-las no bolso. Sob uma débil, mas ruidosa chuva, não notou a aproximação do facínora que encostou o revólver em suas costas, dizendo:
    - Abra o portão e entre em silêncio!
    - Não consigo encontrar minhas chaves. Por favor, não atire!
    - Ande logo!
    Seus dedos trêmulos percorreram o interior da pasta até esbarrarem nas chaves. Ao puxá-las, sua mão vacilou e as derrubou. O movimento brusco que fez para apanhá-las assustou o bandido, que disparou contra sua nuca e fugiu.
    Dias mais tarde, numa tentativa de assalto a banco, o mesmo criminoso foi baleado pela polícia, mas sobreviveu. A bala, porém, alojou-se em sua espinha e o privou de seus movimentos pelo resto da vida.
    O homem da pasta era um doutor e pesquisador do maior hospital universitário da cidade. Há anos vinha fazendo progresso em sua pesquisa com células tronco e, numa noite de quinta-feira, havia feito uma descoberta genial envolvendo reparação de células do sistema nervoso central, mas seus papéis foram perdidos em meio à chuva e ao sangue.


    Do outro lado da cidade, um outro cientista recebia os resultados de seus exâmes. Há tempos era fustigado por uma renitente dor de cabeça. A imagem de ressonância apresentou-lhe seu algoz. Massa sólida, malígna, inoperável!
    Conversando com seu médico e amigo, disse:
    - Será que devo atribuir minha inteligência a esse tumor?
    - Na verdade, eu diria que pela localização o tumor inutilizava parte de seu potencial. É bem provável que se você não tivesse câncer já tivesse descoberto a cura para o câncer.