8 de setembro de 2013

Olho de gato

    O último integrante dessa casa, por ordem de chegada, é um gato. Mel tem o pelo preto e branco, pança cultivada ao longo de uns 10 anos, tenros bigodes e intimidadores olhos amarelos. Sua carência por atenção excede o nível que em humanos seria classificado como desespero e , como efeito imediato, seus miados chorosos frequentemente  interrompem a calmaria de nosso sono. Mas Mel é um gato e sua fofice derreteria o coração dos mais empedernidos.  

    À noite, quando cada um se enclausura em seu quarto para dormir, ele faz uma breve visita como seu honesto desejo de "boa noite e acorde logo para me dar mais comida", mas há algo em minha alcova que o faz demorar-se ligeiramente mais. O suficiente para que eu crie vontade de expulsá-lo.


    Todos esses conhecidos maneirismos fazem ser impossível não notar quando algo está diferente. Como quando ele veio e sentou-se em frente a minha cama, fitou-me longamente enquanto eu tirava as botas e depois esfregou-se com deleite pelos cantos. Tornou a mim para que eu o alisasse e depois me encarou com uma estarrecedora nova expressão. Era tristeza. Era angústia. Parecia ter vindo despedir-se. Naquele dia perdi o sono. Quem estaria partindo? Eu ou ele?