29 de janeiro de 2018

(2B ∨ ~(2B))

    Muito do que é abstrato torna-se compreensível somente por exclusão lógica. Digo, a maneira mais rudimentar de definir algo é pela descrição do conjunto complementar. Emerge daí a dicotomia que grassa juízo maniqueísta e é o pesadelo mais renitente de alguns, sobremaneira daqueles cujas antiquadas lentes não permitem apreciar as singelas intersecções existentes. Os mesmos que sentiam-se molestados quando o tema da aula de desenho na pré escola era livre, pois precisavam de limites bem definidos, agora, sofrem por terem suas convicções ruídas e suas fronteiras borradas pelo escrutínio que os roubou uma vida preto e branca e apresentou um gradiente onde palavras como 'bom', ou 'ruim' não exercem com eficiência seu poder.
    Se aceitarmos chamar de progresso o caminho percorrido pela humanidade, é tacanho, para não dizer estúpido, negar que existimos entre infinitésimos que formam espectros tão diversos que é penoso ilustrá-los. Contudo, permanece a fatídica tentativa de alguns afirmarem-se através do desejo de nulidade de outrem. Sempre um novo über alles, sem notar quão exígua é a diferença que colheu essa animosidade. Algum contorno do alvo pode parecer bem claro, mas a questão que passa ao largo é que, quase sempre, aquele que chamamos de antagonista é nosso real propelente e nossa mira aponta para a outra extremidade da mesma gangorra em que estamos.
   


14 de janeiro de 2018

Ether

With every rule I make or break
There always is the heavy weight
Of being the most improper
In all the conventional ways

I march with the black sheep
They covet to be young kids
But it is only through hardship
That we kill the wolf amid

And we are wayless in this ether
But told to fly against the wind
No star to guide us as we wither
Over the sands of broken dreams

The hurting lungs from all the ether
No longer swim against the stream
Under the stars zelously watching
As we drown in teary sins


10 de janeiro de 2018

Circadiano

Alô?! Tudo bem? Desculpe o barulho. Estou falando do Holoceno. Não. Ainda é Quaternário. Isso, no Cenozoico. Ah, não faz tanto tempo assim. Oi?! Desculpe, não ouvi. Ah, sim. Já acabou o Neolítico. Foi uma festa. Eles começaram a brincar com fogo. É...lascavam tudo que podiam. Você não imagina. Oi?! Está difícil aqui. Eles nem perderam a mania de riscar a parede e não param de brigar. Não sei mais o que fazer. Na última vez que coloquei de castigo, saíram renascidos. Daí não consegui mais segurar. A casa ficou pequena. Oi?!

Tu...Tu...Tu

Quem era no telefone?
Era a Gaia. Coitada...Sofrendo com as crianças...Lembre-me de nunca ter filhos.