25 de março de 2015

Ismos

    Minha tentativa de viver segundo o que eu mesmo prego é quase sempre bem sucedida. Hipocrisia não combina comigo. Não sou leniente com outrem, mas o alvo principal do meu julgamento sempre será...serei eu. Mais fácil exortar-me ao bom caminho,  já que controlo minhas pernas. Na cartilha que sigo diariamente, preconizo uma solução 70-30 de otimismo e ceticismo. Essa sempre contaminada de fé e niilismo em alguns ppm. É o uso contínuo desse soro abstrato que faz-me afirmar, controversamente: todo 'ismo' é estúpido.
    Beira o impossível viver de acordo com os próprios planos, pois o acaso é inexorável, de humor questionável e com um suspeito gosto por sadismo. Afeta-me doloridamente quando vejo o mundo mais preocupado com a vida alheia que com a própria. Alcançaríamos tão mais se antes nos vigiássemos, em vez de sempre forçar nossas perspectivas aos olhos vizinhos.
    Tudo mascarado como ideologia, e formalizado por algum 'ismo', todas essas escondem a fraqueza de terem surgido da mente humana. Fantasiam-se de verdade absoluta,  ou de valor moral, conforme o número de adeptos. Nossa fé,  princípios,  valores...São dotados de sentido somente enquanto tivermos que nos validar ao próximo.  Pergunto-me o que aconteceria se todos adotassem como filosofia os dizeres "devo provar nada a ninguém "?

18 de março de 2015

Sr. Joaquim

    O pensamento politicamente correto tem como um de seus pilares a premissa de que nenhuma forma de violência se justifica em uma sociedade de indivíduos que se digam racionais. Mas, ainda há aqueles bravos que não se alinham a essa tendência maniqueísta do mundo moderno e reconhecem que, tudo posto em perspectiva, nos permite enxergar a variedade de tons entre os extremos do espectro.
    Ainda que reprovável, a violência pode ser tomada como último recurso na arte da persuasão. Aplicável àqueles que teimam em aceitar mesmo os mais válidos argumentos. Às vezes é necessário abrir na marreta uma cabeça dura.
    Faz anos, mas o exemplo é pedagógico. Houve uma discussão entre meu avô e o dono da chácara fronteiriça. O segundo,  possuidor de mais e mais valiosas terras, sentia-se no direito de conduzir, à revelia dos vizinhos, uma obra que desviaria a enxurrada em época de torrentes. De maneira mal planejada, calharam a rua a poucos metros da porta da casa de meu avô. O que seria inconveniente,  para não dizer perigoso, no caso de uma chuva forte.  Meu avô,  é claro,  protestou. O sr. Joaquim, quem propôs a obra, permaneceu indissolúvel...Até o momento em que meu avô buscou uma foice...a escavação parou naquele instante e, milagrosamente, pensou-se numa solução alternativa.
    Da mesma forma, toda a história manchada de sangue,  pode, à priori, parecer uma exaltação desnecessária dos homens que na época não conseguiram, através do diálogo, resolução para suas diferenças. Entre tapas e gritos a humanidade encontra o ponto de inflexão que muda seu rumo.