22 de março de 2012

Equilibrium (ironia?)

    Desde que ganhamos esse ar de superioridade por termos desenvolvido nosso encéfalo e passado  a caminhar eretos, também tentamos desvendar os segredos do universo. Por hobby ou motivos filosóficos e existenciais, nós tentamos equacionar tudo, procurar validade matemática, cientificar fenômenos e espiar por detrás das cortinas do show de que somos espectadores. E nessa história os biólogos dizem que são os mais importantes, pois decifram as vias e mínimas estruturas em que há vida. E os químicos dizem ser melhores, pois todos os fenômenos biológicos são resultado de reações. E os físicos agem com empáfia, pois toda  reação química é decorrente de atrações eletrostáticas entre átomos e moléculas, enquanto os matemáticos quebram a cabeça desenvolvendo a ferramenta que impulsiona todas as ciências. Mas, apesar das rivalidades no meio acadêmico, todos parecem concordar que a culpa de tudo é de uma grandeza de difícil conceituação: A energia.
    Todas as explicações que buscamos repousam, de alguma forma, sobre os ombros dessa misteriosa entidade. Tudo busca um estado de menor energia. Menos  energia equivale a mais estabilidade, a aproximar-se de um modelo ideal e quase utópico. Para isso e por isso átomos compartilham elétrons. Para isso e por isso há convecção de massas de ar do equador aos polos. Para isso e por isso há terremotos, erupções e tsunamis. Para isso e por isso acordamos cedo, estudamos,trabalhamos e procuramos parceiros. Para isso e por isso fazemos revoluções, declaramos guerras e matamos.
    É paradoxal que todo esse dinamismo que conhecemos como vida seja baseado no litígio e no desequilíbrio, mas para aqueles consternados com a ideia, trago a notícia de que alcançaremos esse tão almejado estado de menos energia. Os mais afoitos dizem que será em 21/12/2012. Já os menos positivos estimam algo da ordem de dezenas de milhões de anos, tempo necessário para que todo o sol seja convertido em Hélio e a vida na terra seja extinta em gélida escuridão, o que ainda é um bom prospecto, uma vez que os mais alarmistas nos cedem míseros séculos até o total esgotamento de recursos naturais e a consequente grassa da anomia sobre aquilo que um dia conhecemos como sociedade civilizada.
    Enfim, são notícias alentadoras. Cumpriremos nossas funções como parte do cosmo, ainda que no mais negativo dos cenários. Mas para que o façamos com paz de espírito é necessário que não estejamos familiarizados com o conceito de entropia, senão saberíamos que mesmo depois de tudo acabado, em algum canto do universo, um planetinha recém arrefecido, com grandes mares e ozônio em alta atmosfera, alimentado de esperança por um dissimulado sol amarelo, pode aceitar a missão suicida de permitir que aminoácidos virem coacervados, e coacervados virem bactérias, e bactérias conspirem para um dia saírem dos mares e evoluírem para primatas com encéfalo desenvolvido e que andarão pela superfície do pobre planeta, cheios de hobbies e existencialismos, sem entender como e por que as coisas acontecem. Ignorância é benção!