1 de outubro de 2012

Voyeur

    Seus olhos tinham que ser verdes. Nada mais adequado. Aliás, tudo nela combinava perfeitamente, como se ela fosse o resultado de um algoritmo que processasse meus desejos e perversões. A compilação de minha lascívia. Com grandes e profundos olhos verdes, mergulhados em sinuosos contornos escuros, ágeis e pérfidos. Tinha os cabelos avermelhados. O tom se acentuava à luz do sol. A cor era tão viva que surpreendia haver tal combinação espectral. A pele era alva e adornada com belas sardas que despontavam de seu rosto e guiavam meu olhar até perderem-se a caminho de seus seios. Eu tinha que ver o resto.
    Não pude deixar de sorrir enquanto a despia. Estava extasiado por aventurar-me em tão bela paisagem. Beijei-a abaixo do pescoço. Ela estremeceu e aspirou profundamente. Pensei que estivesse nervosa, pois sentia seu pulso em meus lábios. Quente e rápido. Mas seu rosto cálido não esboçava o menor traço de preocupação. Era pura excitação. Uma generosa profusão química que faz ser tão positiva a resposta fisiológica que a natureza nos proveu.
    Éramos um corpo somente. Partícula isolada e em sincronia. Uma de suas mãos agarrava minha nuca e a outra vagava em minhas costas, sem encontrar onde repousar. Ela arfava nervosamente. Mal havia espaço para respirarmos. Tomávamos conta do quarto com prazer escapando pelas ventas e poros, languidamente escorrendo e encharcando os lençóis.
    Logo seus suspiros cresceram e eu a tive espástica em meus braços. Deitou a cabeça em meu peito e adormeceu. Nunca terei recompensa maior. Pude vê-la dormindo tão placidamente que até chequei sua respiração. Perscrutei minha própria consciência, a fim de ter certeza de que não estava sonhando. Ainda que estivesse... Pediria para que ela não fosse mais embora assim que despertasse. Eu tinha que ver o resto.

Um comentário:

  1. Ficou ótimo! Consegui visualizar com perfeição a musa inspiradora... Só não goze tão rápido!

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