6 de março de 2013

Humor e liberdade em risco



    O evento, que tem como principal interesse promover a interação entre ingressantes na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, conhecido como Integrapoli, tem esse ano, bem como em outros, revoltado o público que é incapaz de compreender seu teor lúdico e jocoso. É notável a renitência de temas semelhantes a esse nos últimos tempos. Comediantes como Rafinha Bastos e Daniel Gentili são alvo de ataques e repúdio de uma miríade de grupos, dado seu 'humor controverso'.

    Os itens da lista que despertaram o furor de alguns fazem, sim,  alusão à temática sexual e exploram uma difusa imagem do universo feminino (confesso que a mais tacanha), mas são apenas uma pilhéria e me entristece ver que esses tabus criam um enfrentamento de proporções exacerbadas, simplesmente pois as percepções das pessoas, naturalmente,  destoam .

    Compreendo que o proposto é tido como ofensivo e machista e posso dizer que, ao elaborar aqueles itens, os organizadores do evento não tiveram a postura mais sensata, mas, vale lembrar que muitas sátiras são erigidas sobre temática afim, ou não era Gregório de Matos quem fazia sonetos em que freiras faziam sexo, descrito da maneira mais chã possível?!

    O que quero defender é que, ao tentar cercear uma ideia ou opinião, tentando conformar todos os pontos de vista ao seu próprio, esses revoltosos estão agindo de maneira fascista. Repreender  uma forma de expressão como o humor é só um modo de tornar o mundo todo num lugar cinza, intolerante e involuído e, enquanto não houver leniência às mais diversas expressões, haverá nichos ditatoriais de machistas, feministas, fanáticos religiosos, homofóbicos e tudo que macula e fere, física e psicologicamente, a sociedade.

Um comentário:

  1. A questão não é cercear a liberdade de ninguém, é evitar que pessoas sejam abusadas sexualmente. O humor pode ser uma forma de opressão quando é utilizado para debochar do que não é "aceitável" pelo senso comum, como a piada de Rafinha Bastos " - Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço. " O problema não esta na piada em si, mas porque ela é engraçada? Porque numa sociedade machista , a função social de uma mulher é ser um objeto sexual e servir o homem. Então uma mulher considerada feia, pelos padrões estéticos imposto por esta sociedade, como não tem utilidade, deve agradecer a qualquer homem que gostaria de fazer sexo com ela, mesmo se seja um estupro ou qualquer forma brutal de violência. Este tipo de piada só ajuda a banalizar e propagar preconceitos, como o caso de piadas racista e homofóbicas, elas não teriam graça se a sociedade não fosse racista e homofóbica; quantas piadas você já ouviu sobre heterossexuais, brancos, homens e ricos?
    Além disso , o Intregapoli não é somente um evento de integração entre colegas, é um evento de aceitação social entre os calouros e seus "veteranos"(superiores). Por isso, calouras suplicam e imploram para serem alvejadas semi-nuas por uma metralhadora de elásticos para que alguns caras possam escolher a mais "gostosa" entre elas e realizar seu fetiche de Pânico na TV. Isto é integração?
    Propor que um homem ejacule ou finja ejacular em uma mulher desconhecida, calouras lavando carros , clipes sensuais de mulheres, menor biquíni, obviamente existe uma pressão em diversas provas para que as mulheres são tratadas como nada mais do que um par de nádegas e seios; uma pressão humilha, abusa e agride mulheres na Barraca do Tapa; uma pressão que elege as "bixetes mais gostosas" nos banheiros;uma pressão conivente com estupros que acontecem em festas; uma pressão que o diretor da poli diz "tudo não passa de um mau entendido da mídia"; uma pressão que inibe discussão; uma pressão que o jornal Politécnico debocha e satiriza em vez de fomentar a discussão; uma pressão em que oprimidos corroboram com a opressão.

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