24 de dezembro de 2015

Sarna

O cão era dócil. Mirava longa e amorosamente os habitantes da casa na cozinha,  enquanto repousava a cabeça no degrau da entrada. Tinha porte. Ancas robustas, patas firmes. Não tinha raça. Trazia maculada no couro a vida nas ruas.  Comichava-se aflitamente, com os dentes, quando não bastava arranhar o prurido com as unhas. Nos trechos despelados, tinha a carne exposta...cálida...fétida... Nutrindo as pulgas e carrapatos que, literalmente,  o devoravam vivo. Sua feição era conformada. Já não estava na rua. Seria consumido pela sarna em seu tapete...ao lado dos restos que o serviam. Não frio. Não quente. Simples, mas belo.

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